quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

SONETO 148


Ó, vida! Que olhos o Amor me deu
Que não correspondem ao que vejo?
Ou, se for verdade, o que houve com meu julgamento,
Que censura mal o que corretamente veem?
Se for justo o que os meus falsos olhos vislumbram,
O que é o mundo se dissermos que ele não o é?
E, se não for, então, o Amor bem prova
Seu olhar não ser tão verdadeiro: não,
Como é possível? Ah, como pode o Amor ver bem,
Se está tão ocupado em mirar e prantear?
Não há surpresa, assim, que meus olhos vejam mal;
O próprio sol não vê senão quando o dia está claro.
Ah, astuto Amor! Cegas-me com as tuas lágrimas,
Para que os meus bons olhos não vejam as tuas iníquas falhas.

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