domingo, 3 de janeiro de 2016

SONETO 10


Envergonha-te negar que não ames,
Tu que és tão imprudente;
Aceita, se quiseres, ser amado por muitos,
Mas é certo que não ames ninguém;
Pois tens um ódio tão mortal,
Que apenas contra ti não conspiras,
Buscando arruinar este nobre teto,
Que tanto desejas remendar:
Ah, muda teu pensamento que mudarei o meu!
Deve o ódio ter mais reservas do que o Amor?
Sê, como tua presença, gentil e gracioso,
Ou, a ti, ao menos, te proves amável;
Sê outro, pelo amor que tens por mim,
Para que a beleza permaneça em ti.

SONETO 12


Quando conto as horas que passam no relógio,
E a noite medonha vem naufragar o dia;
Quando vejo a violeta esmaecida,
E minguar seu viço pelo tempo embranquecida;
Quando vejo a alta copa de folhagens despida,
Que protegia o rebanho do calor com a sua sombra,
E a relva do verão atada em feixes
Ser carregada em fardos em viagem,
Então questiono a tua beleza,
Que deve fenecer com o vagar dos anos,
Como a doçura e a beleza se abandonam,
E morrem tão rápido, enquanto outras crescem:
Nada detém a foice do Tempo,
A não ser os filhos, a perpetuá-lo após tua partida.

SONETO 14


Não faço meus julgamentos pelas estrelas,
Embora conheça bem a astronomia,
Mas não para adivinhar o azar ou a sorte,
As pragas, as privações ou as mudanças de estação;
Nem posso adivinhar o futuro próximo,
Dando a cada um a sua tormenta,
Ou dizer aos príncipes se tudo passará,
Predizendo o que apenas os céus podem trazer:
Porém, retiro a minha sabedoria de teus olhos,
E neles (eternas estrelas) entendo a sua arte,
Pois, juntos, vencerão a verdade e a beleza,
Se, de teu próprio ser, verteres o teu alento,
Senão, isto, eu prenunciaria:
Em ti, toda verdade e beleza findam.

SONETO 15


Quando penso que tudo que cresce
Guarda em perfeição só um momento,
Que este imenso palco, sem desvendar, apresenta
O que as estrelas nutrem em segredo;
Quando noto que os homens, como as plantas,
Vivem e morrem sob o mesmo céu,
Gabando-se de um viço que se esvai
E de todas as bravatas imemoriais,
Então a vaidade desta breve permanência
Faz-te mais jovem ante os meus olhos,
Onde o Tempo perdido se debate com a Morte,
Para transformar o teu dia de juventude em noite escusa,
E sempre combatendo o Tempo pelo teu Amor,
Se ele o roubar de ti, outra vez te recomponho.

SONETO 17


Quem crerá em meu verso no futuro,
Se for tomado por teu completo abandono?
E Deus sabe que a tua vida se transformou em tumba,
Sem deixar entrever nem a metade de teu ser.
Se eu pudesse descrever a beleza de teus olhos,
E enumerar infinitamente todos os teus dons,
O futuro diria: “Este poeta mente,
Tanta graça divina jamais existiu em um ser”.
Podem os papéis amarelados em que escrevo
Serem desprezados como velhos falastrões,
E tuas verdades poriam fim à ira deste poeta,
E prolongariam o som de uma antiga canção:
Mas, se um filho teu vivesse, então,
Viverias duas vezes – nele e em meu canto.

SONETO 18


Como hei de comparar-te a um dia de verão?
És muito mais amável e mais ameno:
Os ventos sopram os doces botões de maio,
E o verão finda antes que possamos começá-lo:
Por vezes, o sol lança seus cálidos raios,
Ou esconde o rosto dourado sob a névoa;
E tudo que é belo um dia acaba,
Seja pelo acaso ou por sua natureza,
Mas teu eterno verão jamais se extingue,
Nem perde o frescor que só tu possuis,
Nem a Morte virá arrastar-te sob a sombra,
Quando estes versos te elevarem à eternidade.
Enquanto a humanidade puder respirar e ver,
Viverá meu canto e ele te fará viver.