domingo, 3 de janeiro de 2016

SONETO 40


Toma todos os meus amores, meu bem, sim, toma-os todos;
O que mais tens agora que já não tinhas antes?
Nenhum amor, meu bem, que possas chamar de Amor;
A mim, tinhas por inteiro, antes de me teres mais ainda.
Então, se pelo meu amor tu o recebeste,
Não posso culpar-te pelo meu amor que usaste;
Mas, mesmo culpada, se porventura te enganaste,
Por orgulho do que tu mesma recusaste.
Perdoo-te por teres me roubado, gentil ladina,
Embora roubes de mim toda a minha riqueza;
Ainda assim, o Amor sabe, é uma tristeza inda maior
Suportar do amor o erro do que a injúria do desamor.
Lasciva graça, em quem todo o mal se mostra,
Mata-me com teu desprezo, mas não nos tornemos inimigos.

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